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Um peixe com sabor a praia e mar e um arroz de goraz




Eram três. Maria, Joana e Manuel. As férias grandes de verão traziam-nos durante três semanas até à casa dos avós maternos no Algarve. A casa ficava junto à praia. Tinha dois pisos e estava pintada de branco. As janelas eram sublinhadas por uma barra azul e pequenos vasos, presos à parede, com sardinheiras vermelhas. Uma cerca de madeira, também pintada de branco, dava a volta a casa, cortada apenas por um portão situado em frente à entrada principal. Dentro da cerca, um pequeno jardim com canteiros de flores, duas laranjeiras, uma figueira e três pés de videira que cresciam por uns paus de madeira e cobriam todo o espaço junto às escadas para a açoteia. Era ali que muitas das vezes as crianças brincavam ao final do dia, à sombra, debaixo de grandes e maduros cachos de uvas. Ou se deliciavam com os figos maduros e doces que apanhavam da figueira.
Maria era a mais velha, Joana a irmã do meio e Manuel o mais novo. Tinham de diferença entre si, precisamente três anos. Manuel, muitas vezes tinha que recorrer ao choro e a muitas lágrimas gordas e salgadas para fazer valer as suas vontades. Mas a idade em certas alturas é um posto e as irmãs acabavam por ceder.
Os dias de verão eram marcados por uma rotina. De manhã ida à praia bem cedo. Uma ou outra vez a avó e a criada Teresa, que os pais fizeram questão que os acompanhasse, levavam-nos à água. Mas o que gostavam mesmo era de brincarem na areia.

Com as suas pás, baldes e formas de diversos feitios, construiam castelos onde ora, vivia uma princesa bonita presa a um feitiço e por isso nunca podia sair do castelo durante o dia, ou uma terrível rainha, de olhar de limão azedo, que aprisionava todas as crianças gordas e rechonchudas que depois transformava em pequenos sapinhos amorosos com que adorava brincar, fortes cheios de especiarias e tesouros que nem o Capitão Gancho sonharia, barcos com velas rasgadas pela força do vento, piratas trapalhões com pernas de pau e que não sabiam assobiar, sereias que cantavam doces melodias e adormeciam os marinheiros num sono tão profundo que deixavam os seus barcos naufragar, baleias gigantes e peixes coloridos que nunca viram.
Depois do almoço, dormiam a sesta e os seus sonhos eram povoados de aventuras com sabor a mar. Manuel, sonhava sempre que era um valente marinheiro, destemido e forte, e que tinha que salvar as suas irmãs que imprudentemente se envolviam em sarilhos.

Para além das doces brincadeiras de sonho na areia, riam de contentes quando o seu avô António os levava à pesca. O avô preparava as canas, os anzóis e o isco, e cada um deles levava um baldinho para trazer o seu peixe ou uma ou outra amêijoa que apanhassem na Ria Formosa. Aqueles passeios com o avô à pesca eram mágicos. Mas mais mágico ainda era quando regressados a casa, o avô António ia para a cozinha e preparava uma deliciosa refeição com o peixinho que apanhava.
Maria, Joana e Manuel, cresceram, tiveram filhos e o avô António já partiu. Mas acreditam que ainda se recordam com um sorriso nos lábios daquelas férias de verão e da receita de peixe do avô, feita agora em ocasiões especiais.


Ingredientes:

1kg de goraz
2 cebolas
3 dentes de alho
1 colher de chá de colorau
3 tomates maduros
2 folhas de louro
1,5dl de azeite
sal e pimenta
400g de arroz carolino
água quente (aprox. 1,2L)


1. Cortar o goraz às postas e polvilhá-lo com sal.
2. Num tacho, levar ao lume médio, o azeite e refogar as cebolas cortadas às rodelas ou em meias-luas, os alhos esmagados, as folhas de louro e o colorau.
3. Depois da cebola quebrar, adicionar o tomate picado limpo de peles e sementes. Deixar ferver até ficar quase em puré. Temperar com sal e pimenta.
4. Juntar 2,5dl de água quente. Quando levantar fervura adicionar as postas de goraz. Assim que cozido retirar as postas e reservar.
5. Acrescentar a água e adicionar o arroz. Rectificar os temperos.
6. Servir o arroz com as postas de peixe.